30/01/2006 :: Questão ética

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2006-01-30

Questão ética

Ética e moral normalmente são empregadas como sinônimos, ou definimos ética como conjunto de práticas morais. Tratamos ética, como um sistema que afirma ou critica um determinado princípio moral. As discussões sobre as questões éticas não se restringem aos filósofos ou religiosos, e sim a uma condição que é dada a todos os seres humanos, não aceitando todos os valores morais existentes, mas questionando e entendendo-os. Torna-se uma necessidade de convívio social. A sociedade precisa que os indivíduos aceitem algumas normas sociais, regras de comportamento em coletividade, para que a ordem social persista.

Geralmente nos vimos diante de algumas questões sociais que consideramos éticas, aquilo que é visto pelas pessoas como certo ou errado, como droga, fome e desemprego – o que desperta em algumas pessoas indignação. Não estamos habituados a responder a estas questões de forma individual, respondemos sempre algo que a sociedade esteja acostumada a ouvir, o que nos causa certo conforto e comodidade, porque não corremos o risco de fugir à normalidade.

Cada indivíduo é responsável pelo processo de construção do ser humano, já que não nascemos pré-determinados a realizar as coisas. Concomitantemente, cada um se torna responsável pela conseqüência de seus atos. A experiência humana de se rebelar diante de uma situação desumana e de injustiça, é chamada de indignação ética. Tal indignação é uma das experiências humanas mais fundamentais, pois é a experiência de liberdade frente às normas injustas e petrificadas, aceitas com normalidade. E esta que nos faz vislumbrar um futuro novo e diferente. A consciência ética surge dos valores morais pessoais e da sociedade. A moral e os valores surgem das interações sociais, das relações que estabelecemos uns com os outros, criando normas e padrões de conduta e de pensamento, os quais constituem a moral.

A cultura vem para suprir a ausência dos instintos biológicos que só adquirimos ao longo da vida. Não nascemos com uma definição clara e objetiva do que é certo ou errado, aprendemos diante de informações que recebemos com o passar do tempo. Os hábitos culturais variam de região para região, o que é normal numa cultura, não será necessariamente normal noutra. Não é possível viver sem participar de um grupo social e compartilhar de seus hábitos, sentindo-se uma pessoa “normal” dentro do mesmo. A cultura do mundo humano é vista com bastante objetividade, percebida como uma realidade evidente, com um poder coercitivo, podendo punir alguém em nome das leis que regem a sociedade.

Existem aqueles que se tornam diferentes na sociedade, discordando das normas existentes e desta forma, criando respostas e soluções de forma contraditória às estabelecidas socialmente. A cultura uma vez criada e estabelecida por um povo, suas normas e valores morais serão transmitidos de geração para geração, e tudo que for contrário aos seus hábitos e costumes será considerado diferente.

O legado cultural, entretanto, não é deixado de uma forma inercial, onde não há espaço para mudanças ou adaptações. Se assim ocorresse, não haveria condições de criar, de mudar – embora o novo muitas vezes provoque medo e insegurança diante do inesperado, do desconhecido e do porvir. Nas sociedades antigas, a tradição, a honra e a família ocupavam lugar central nos valores morais. Nada de essencial podia ser modificado, viviam sob paradigmas impostos.

A igreja e a religião defendiam a moralidade como “vontade divina” tudo deveria ser como já era estabelecido pelos desígnios de Deus e todas as tentativas de inovação ou liberdade eram reprimidas, daí a visão negativa da palavra “moral”. Na sociedade tradicional, as regras de conduta moral já estão definidas – existe o que é bom ou o que é mau – afirmava que estas regras eram estabelecidas por Deus, não cabendo ao homem mudá-las, apenas aceitá-las, o que poderia causar um descompasso, levando as pessoas ao individualismo.

  Nas sociedades modernas ou capitalistas ocorreram mudanças radicais em relação às sociedades tradicionais, valoriza-se o indivíduo em detrimento da coletividade. Surge o progresso onde não há limites para o querer, para as ações humanas. Este progresso é visto como “hoje melhor que ontem e amanhã melhor que hoje”. A ordem social não é mais definida pela religião e pela moral. Paralelamente, em nome do progresso ou da modernidade condenam-se milhões de pessoas à miséria ou à morte, provoca-se desequilíbrio no meio ambiente e põe-se em risco a vida humana na Terra. O ser humano com seu individualismo se esquece de que sozinho, também é responsável pela degradação da natureza. As atitudes devem ser tomadas de forma a beneficiar não apenas a si mesmo, mas sim, toda a sociedade. A economia se orienta para o progresso e com isto vão se esgotando os recursos naturais. Em nome do progresso substituímos ética por técnica, e nos deparamos com problemas que a técnica não pode responder ou abafar, como miséria, fome, violência, corrupção, frustrações pessoais e desastres ecológicos. Diante disto, resgata-se na sociedade a ética - e ética, exige mudança de atitude.

Moral essencialista ou ética de princípios são normas que regem o comportamento moral dos indivíduos em toda e qualquer situação. A moral individualista tem a pessoa como um ser egoísta que busca apenas seus interesses, “cada um por si”, uma sociedade baseada em concorrências, valendo a lei do “levar vantagem em tudo”. Os valores morais impostos pela sociedade e pela religião perderam sua força. O egoísmo e os interesses individuais assumiram o lugar dos antigos princípios, passando a ter um valor central na vida das pessoas, nesta sociedade de competição. Os valores desta sociedade de concorrência impedem que as pessoas se solidarizem e que se unam para buscar o bem comum. Numa sociedade orientada por tais valores, o outro, a coletividade e a natureza passam a valer por sua utilidade imediata, provocando um enfraquecimento dos laços sociais e a degradação da natureza.

Na ética de responsabilidade cada grupo social determina consensualmente os padrões de conduta que os indivíduos devem seguir, não são fixos ou imutáveis, são alterados de acordo com a situação, ou como a sociedade julgar necessário.

Na sociedade moderna existem alguns valores bem definidos, a separação dos valores morais (amizade) e a razão econômica. Na sociedade tradicional estes valores andavam juntos. Com o capitalismo, as pessoas visando progresso, não trabalham para viver, mas sim, vivem para trabalhar, para acumular bens e riqueza.

Na transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna, há uma ruptura entre moral e política. A política moderna pretende ser amoral, ou seja, reger-se por critérios objetivos de decisão e não por valores morais. É difícil falar de ética quando tratamos de política. Paradoxalmente, podemos destacar alguns pontos: A presença das Organizações Não Governamentais (ONG´S) em centros de decisão como Organização das Nações Unidas (ONU) e parlamentos, buscando o bem geral. Temos os cidadãos comuns, com ação cada vez mais limitada na esfera pública, caindo no individualismo, na apatia e na indiferença – temos os políticos – com poucas exceções, fazendo do poder público um negócio privado, buscando enriquecimento pessoal e interesses espúrios para crescimento de seu grupo econômico social. A crítica ética vem para mostrar o quanto a política se afastou dos princípios morais e de seu objetivo-fim, a crítica ética deve exigir a moralização da ação pública através de meios que lhe são pertinentes. Estes problemas são originados principalmente pela falta de consciência dos cidadãos em cumprir com responsabilidade seus compromissos sociais.
 
 Este trabalho irá abordar como questões ecológicas podem ser tratadas ou resolvidas, analisando como uma consciência individualista e voltada para o progresso acarreta problemas ecológicos, em proporção global.

Os problemas ecológicos hoje são um dos mais graves que enfrentamos no mundo, não se limitando apenas ao ambientalismo, se estendendo ao ramo do conhecimento, da economia e da política. A consciência ecológica, tardia, levou as pessoas a participarem dos movimentos ambientais. Hoje os sinais de destruição do meio ambiente são graves, já os sentimos através da poluição das cidades, das chuvas ácidas, através do efeito estufa, pela degradação da natureza e do meio ambiente como um todo. O senso crítico de reverter este quadro da “vida” do planeta começa a despertar nas pessoas, porém a ética do capitalismo se impõem sobre a ética ecológica, que é o conjunto de fatores que leva as pessoas a se comportarem de forma harmoniosa com a natureza.  Para sobreviver o homem transforma a natureza através da força de seu trabalho, entretanto, na sociedade moderna (capitalista), torna-se mais barato (e fácil) destruir novas florestas do que reflorestar as áreas já devastadas.

A solução para a questão ecológica exige uma ação global, um comprometimento geral, reformulando todo o modelo de sociedade industrial. Como um dos obstáculos temos a ética individualista, que se manifesta de várias maneiras frente ao problema, que é mundial e somos todos responsáveis por uma solução.

O crescimento desenfreado da taxa de natalidade constitui um sério problema, pois significa mais florestas sendo transformadas em lavouras para alimentar tantas pessoas. Os países industrializados são grandes responsáveis pela crise ecológica, porque consomem a maior parcela da energia mundial, dos metais, da madeira, dos alimentos e são grandes responsáveis pela emissão de gases tóxicos, e não há aparentemente, uma preocupação em reverter este quadro de degradação, pois se recusam a assumir qualquer compromisso importante para a solução da crise ecológica, ignorando a globalidade da questão. Em conjunto, é necessário que as populações tenham condições dignas, como saúde, educação, cultura e moradia para que a conscientização atinja todos os níveis - referência à pirâmide de Abraham Maslow.

Modos alternativos estão sendo utilizados de forma a minimizar a destruição ambiental e otimizar os recursos disponíveis, como a energia solar, dos ventos, das marés, a utilização da biomassa – álcool e dendê - o controle de poluentes e a reciclagem. Tais medidas não podem ser usadas isoladamente. O avanço tecnológico contribui fortemente para a destruição da natureza – a tecnologia mal utilizada produz efeitos devastadores – a eliminação das espécies atinge níveis alarmantes nos dias de hoje, a falta de compromisso com a sofisticação dos produtos – o uso dos aerossóis, CFC´S, solventes, a destruição da camada de ozônio – contribui para a baixa qualidade de vida.

A proposta de mudança ecológica envolve alteração nos valores da sociedade e da consciência individual. Os países ricos são os que possuem maior poder para a solução da crise ecológica. A contribuição individual é importante para esta preservação. Pela manutenção do equilíbrio ecológico, a consciência deve ser global.

As discussões sobre ética passaram a ocupar um lugar central. Ter boas intenções não é o suficiente. É preciso ação, materializar as boas idéias e projetos, e manifestar nossa indignação ética para transformar a sociedade e o modo como as pessoas pensam e agem. Somos todos responsáveis pela mudança positiva ou por qualquer estrago irreversível causado ao ambiente, à sociedade como um todo ou a nós mesmos. É preciso transpor os limites da ética individualista e criar uma ética de responsabilidade solidária e coletiva, onde estejamos imbuídos de um mesmo propósito e compromisso.

A verdadeira mudança ocorre internamente, dentro de cada individuo. Não basta que os meios de comunicação, campanhas ecológicas ou mesmo a legislação exijam esta tão falada consciência ecológica. Trata-se de um processo de reeducação, que ocorre de dentro para fora, seja de dentro de nossas casas, seja através do nosso bom senso.  O indivíduo deve perceber a dimensão do problema e se sentir co-responsável por ele. Estamos acostumados a enxergar a questão da preservação ambiental como um problema que será resolvido pelo outro, mas é um “trabalho de formiguinha”, deve ser feito individualmente, a todo o momento. Equilíbrio ecológico exige mudança de atitude, de hábitos e de costumes. O que será de nossos filhos, de nossos netos e das próximas gerações? Perguntamo-nos agora, haverá geração futura? As respostas para tantas perguntas consistem literalmente nesta mudança, exige que cada pessoa assuma uma postura ética ecológica, que faça o que lhe cabe, o que lhe é possível e esperado. Exige que cada um se torne responsável por difundir esta idéia, para que ela atinja todos os níveis e regiões.

Algumas ações estão sendo feitas para evitar maiores danos ambientais, as pessoas estão se preocupando mais com a seleção do lixo descartado e com a destinação dele. As escolas, a mídia e os meios de comunicação tentam difundir nas pessoas esta consciência, e o governo com legislação e projetos que buscam este objetivo, como o Protocolo de Kyoto.

A grande mudança será a mudança de mentalidade das pessoas, e o Protocolo de Kyoto, considerado o maior tratado ambiental do planeta, com a adesão de mais de cento e quarenta países, tem o objetivo de conscientizar as pessoas dos países do mundo inteiro, a reduzir a emissão de gases provocadores do efeito estufa. Mas nem todos os países aderiram ao tratado, como os Estados Unidos que são responsáveis por um quarto dos gases poluentes, e a China continua que aumentando as suas emissões e já é o segundo maior poluidor. No Brasil o desmatamento, mudanças no uso dos solos e queimadas são as principais fontes de emissão de gases poluentes. É questionável ainda, a punição dos países que não cumprirem suas metas até 2012 – prazo estipulado pelo Protocolo – caso um país não cumpra a meta no primeiro período, teria que pagar a dívida no segundo. Há um grupo de brasileiros que propõem criar um sistema de compensações financeiras para países que consigam reduzir suas taxas de desmatamento. O governo brasileiro e as Forças Armadas entendem que assumir compromissos de não desmatar implica renunciar à soberania no uso de recursos. Os governantes precisam encontrar alternativas de reduzir o desmatamento, porque não nos é conveniente à perda de recursos e serviços naturais valiosos.

A proposta do Protocolo de Kyoto é indubitavelmente válida, porém a ética ecológica que é necessária para a mudança de mentalidade das pessoas não é proposta por este acordo. O Protocolo trata especificamente das obrigações que as partes assumem. Citam os números, as projeções, a dimensão dos danos e os países participantes ou não.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o MDL ou CDM (sigla em inglês), estabelecido no artigo 12 do Protocolo de Kyoto é uma medida para promover o desenvolvimento sustentável em países subdesenvolvidos - único dentre os mecanismos de flexibilização que prevê a participação das nações em desenvolvimento. O MDL permite que países desenvolvidos invistam em projetos (energéticos ou florestais) de redução de emissões e utilizem os créditos para reduzir suas obrigações: cada tonelada deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera poderá ser adquirida pelo país que têm metas de redução a serem atingidas. Cria-se assim um mercado mundial de Reduções Certificadas de Emissão (RCE). 

Alguns pesquisadores e cientistas apontam a possibilidade de os países desenvolvidos usarem o MDL como pretexto para continuar poluindo.

As reduções das emissões de gases devem acontecer em várias atividades econômicas, especialmente nas de energia e de transporte, através da promoção do uso de fontes energéticas renováveis, redução das emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos e outras medidas, como proteção de florestas e outros sumidouros de carbono.

A crítica aos nossos modos de viver está implícita ao apontar os problemas das nossas matrizes energéticas poluidoras. E no diagnóstico do painel mundial sobre as mudanças climáticas, todos sabemos quais são, onde estão os problemas, de que forma podemos evitar a continuidade desta poluição e, sobretudo sabemos os problemas que poderão acontecer por causa das ações humanas.

Resta-nos agora iniciativa, boa vontade, e aos governos – do mundo inteiro – criarem projetos que despertem nas pessoas esta proposta de mudança de conscientização, de mentalidade, para que tantos projetos de preservação do meio ambiente e da garantia da vida na terra sejam completamente eficazes e duradouros.

*Aluna do curso de Administração

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