06/03/2008 :: Elas por Ela

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2008-03-06

Elas por Ela

Adoro o complementar masculino, eles são fantásticos, mas tenho uma enorme admiração pelas mulheres. Elas são admiráveis, impecáveis. Poucos foram os homens que conseguiram captar a imensidão do universo feminino. Para mim um deles foi o Chico Buarque: Quando você me deixou meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem...

Ou ainda:

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas.

Chico, como poucos compositores, conseguiu captar o que se passa dentro de uma mulher quando ela sente dor ou amor. Diferentemente do Vinicius de Moraes, que fez uma coisa que as mulheres adoram: Reverenciou-as!

No cinema o Almodovar também captou este mágico universo. Lembro que fui assistir por insistência de dois amigos gays ao filme “Tudo sobre minha mãe”. No cinema eu sentei no meio dos dois, e lembro que a cada cena mais chocante eles me olhavam esperando ver a minha reação. No final do filme eles me falaram:

- Suely, mas você não chorou? (com ar de decepção)

Eu respondi:

- Não, está é a vida de uma mulher, e sobre o que se passa dentro dela!

Os dois ficaram admirados.

É difícil sim, para a maioria dos homens, captar o que se passa dentro de uma mulher. Elas têm uma fortaleza interna que ultrapassa qualquer estereótipo de fragilidade. Às vezes por fora podemos até passar esta imagem de princesinha abandonada, mas quando a situação se faz necessária aparece um furacão capaz de urrar por aquilo que acha justo. Temos muito mais da Princesa Fiona, de “Shrek”, do que podemos imaginar. Quantas mulheres defenderam causas sociais? Quantas salvaram seus filhos? Lembra da mulher que nem sequer sabia nadar, mas ao ver seu filho se afogando se jogou na água sem medo?

Pois é, quem vê apenas a mulher de fora, não percebe aquele ser que está dentro.

Atrás daquela executiva brilhante e bem sucedida, muitas vezes há uma mulher que chega sozinha ao seu apartamento é só quer um homem para lhe ninar, como é bem retratado na peça teatral “Eu Te Darei o Céu”.

Nem sempre somos apenas o que aparentamos. Nos meus estudos sobre o universo feminino, dentre várias descobertas, há uma que é marcante: Quando um homem sabe ter uma mulher, descobrirá que ele tem várias. Nenhuma mulher é apenas uma. Quando bem estimuladas, somos alegres, sedutoras, poderosas, sacerdotisas, virgens e devassas.

Nossa capacidade de multiplicação é enorme. Sabemos lidar com vários papéis num único dia, e nossa palavra preferida é “enquanto”.

Enquanto abasteço o carro, lixo as unhas! Enquanto lavo a louça, falo no telefone sem fio.
Enquanto me arrumo, preparo o jantar.
Enquanto espero o filho na escola, vou mandar lavar o carro.

Somos práticas e múltiplas por natureza, e não é à toa que nos demos tão bem no universo masculino das empresas. Estudamos, trabalhamos, cuidamos de nossa saúde e beleza. E cuidamos dos filhos, dos maridos, e principalmente das relações. Lideranças femininas destacam-se justamente por esforçar-se pela harmonia.

Mulheres bem sintonizadas consigo mesmas, e conscientes das múltiplas mulheres dentro de si, buscam a harmonia relacional. Gostam de juntar as partes. São artesãs de mosaicos aparentemente inconectáveis. Elas conseguem fazer muito, com muito pouco.

Merecem ser homenageadas sempre, inclusive no dia Internacional da Mulher. Dia sagrado e que representa luta por justiça. E no dia-a-dia por seu esforço, determinação, e beleza por onde passam.

Cá entre nós, repare nas mulheres, elas são belas por natureza. Podem ser mal tratadas pela vida, mas converse com ela, ou “Fale com ela” e veja que atrás daquela cara enrugada e talvez triste há uma mulher forte, capaz de enfrentar desafios.

Desafios que a mulher brasileira enfrenta: fome, violência, salários menores que os dos homens e assédio sexual.

Pra elas há sempre um dilema: Se forem naturalmente bonitas, sem apelos de operações ou tratamento estéticos, são consideradas burras. Se não correspondem aos padrões estéticos vigentes, devem ter problemas de relacionamento. Se optarem por não querer um casamento tradicional, devem ter problemas de sexo.

Santo Agostinho dizia: Mulheres não têm alma!

Fomos esquecidas, subjugadas e vistas como seres inferiores durante muitos e muitos anos.

As coisas melhoraram?

Sim, um pouco.

Precisam melhorar mais, muito mais. A cada 15 segundos uma mulher apanha no Brasil. Ainda sofremos várias formas de discriminação.

Um mundo mais justo se fará com a inserção feminina. Para isto a velha rivalidade feminina deverá ser sobreposta por ideais maiores. Nós podemos sim melhorar este mundo.

Terra e água são símbolos do universo feminino, e lembre-se que a primeira foi devastada e daqui a pouco não poderemos respirar, e a água está cada vez mais escassa.

Nossa simbologia maior, que é o próprio planeta Terra, representa o Universo Feminino. Enquanto não houver justiça social no planeta, nós mulheres e a Terra estaremos em perigo.

E cabe às mulheres encontrar as saídas para um mundo melhor. Um mundo justo e habitável para todos.

Uma vez, dirigindo um psicodrama público numa praça em São Paulo cujo tema era “Que Mundo Queremos?”, aprendi com uma mulher magra e desdentada, que delicadamente foi juntando uma a uma as mulheres daquela praça e com elas criou uma corrente de força por um mundo melhor. Usei diversas técnicas para lidar com esta força delicada e nenhuma foi capaz de arrebatar a certeza daquelas mulheres: só unidas conseguiremos melhorar o mundo para os nossos filhos e netos.

Novamente a aparência enganou a todos. Os homens presentes na praça naquela manhã de sábado ficaram olhando aquelas mulheres esperançosas, mas que sabiam que a saída estava contida na sua força.

Portanto, se você quiser homenagear as mulheres no dia 08 de março, faça um serviço à sociedade: lembre a elas a força interna que elas têm.

Pra isto, fale com ela, e olhe pra ela. Ouça atentamente quem ela é, e o que diz esta mulher. Olhe nos seus olhos, e preste atenção ao jeito com que ela fala. Você irá encontrar conteúdo, e muitas mulheres desconhecidas. Talvez você até se choque com isto!

Porém, é preciso não tapar o Sol com a peneira. No nosso mundo moderno e competitivo há muitas mulheres que são só casca. Elas perderam a sua alma. Fixaram-se em demasia nas expectativas externas e esqueceram de ouvir a si mesmas, condição básica para qualquer mulher que queira ser feminina.

Infelizmente as mulheres-casca em nosso mundo são muito comuns. Elas estão em todos os lugares. E elas precisam ser ressuscitadas, tal como na música “O Amor” composta por Caetano Veloso e Ney Costa Santos e inspirada no poema que Vladimir Maiakovski fez para a sua amante Lilia:  

Talvez
Quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não pudemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis

Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso

Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe, minha vida
Para que não mais existam
Amores servis

Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
Que se sacrificar
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme

E o pai
Seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a Terra.

(*)www.pavandesenvolvimento.com.br

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